Homo Connectus
Na
semana passada estava junto de um colega que reclamava da impertinência do Whatsapp
em questão a tomar-lhe todo e qualquer momento que lhe sobrava para o descanso.
“Acaba se tornando uma armadilha já que quando não estou no trabalho estou no whatsapp”,
reclamava meu divagador companheiro. Lembrei-me que quando este aplicativo se
tornara febre no Brasil, decidi por espontânea e contrária vontade aos demais
que não usufruiria deste fabuloso recurso que estaria à um click de distância
na app store mais próxima.
Assim
não o fiz, não porque sou munido de tamanha inteligência que me fez perceber, já
a aquela época, o tamanho da arapuca em que estavam entrando meus néscios
colegas, credito esta manobra estratégica mais à minha dificuldade adaptativa
ao novo do que meu intelecto. Mas o que acabou acontecendo foi que não fiz o
referido download, e ainda não o fiz até hoje, acreditem! Fui muito criticado e
ainda o sou por não utilizar a ferramenta, e admito que por falta dela também
já perdi algumas oportunidades, mas o que percebi ao longo deste tempo atuando como
observador desta peça escrita por Zuckenberg, é que não somente este
aplicativo, mas os outros da família “social” desenvolvidos para o telefone
esperto (ou smartphones para os mais globalizados), vem no final das
contas fazendo o contrário para aquilo que supostamente foram desenvolvidos:
sociabilizar.
O
que acontece é que seduzido pela comodidade e pela discrição que uma inocente
mensagem pode denotar ao escritor, este resolve enviar suas idéias sobre um
projeto, pedir um orçamento ou até realizar uma compra fora do horário de
serviço, afinal é só uma mensagenzinha né? Este esquece que pode não ser o
único à ter esta ideia e pior, ele não sabe onde se encontra o receptor da
mensagem naquele momento; Então o pai que está na apresentação colegial de seu
filho acaba perdendo quase toda ela para responder a várias e inocentes mensagenzinhas.
Assim também são comprometidas reuniões familiares, festas, encontros, por fim,
a situação descrita no início deste texto se desenrola nos mais diferentes ambientes
sociais.
Muitos
podem argumentar: mas isso tudo não tem a ver com a tecnologia, é culpa de
pessoas inconscientes, que não respeitam a privacidade alheia, e o seu colega,
porque responde estas pessoas? Porque não aproveita seu tempo de descanso? Resolvi
questioná-lo e a resposta foi um tapa-na-cara: Se eu não responder, os clientes
encontram alguém que responda.
E
o que dizer dos crescentes casos de pessoas apresentando uma extrema
necessidade em checar ou postar em suas redes sociais, aumentar o número de
seguidores, quantidades de likes, deslikes, curtidas... todos estes
aspectos geram padrões comportamentais totalmente novos, padrões de consumo e
imagem que cerca de uma década atrás não existiam. E quando estes serviços
deixam de funcionar mesmo que por alguns minutos, a comoção é tanta e em nível
global que estas viram notícia nos meios de comunicação.
O
jornalista Frankin Foer lançou o livro: O Mundo que não pensa. A Humanidade
Diante do Perigo Real da Extinção do Homo Sapiens, onde ele afirma que com
tamanho desenvolvimento da tecnologia estamos abandonando características essenciais
de nossa espécie como pensar, imaginar, refletir e conhecer. Além disso, alguns
estudos científicos apontam que uso excessivo destes aparelhos podem estar até promovendo
mudanças anatômicas no corpo humano.
Um
conjunto de tecnologias invasivas, altamente viciante, propensas a modificações
comportamentais e até fisiológicas que me torna acessível à milhares de usuários
inconscientes e sem respeito por 24 horas por dia me afugentaram e me fizeram sentir
saudades dos e-mails. Todas estas coisas acontecem com o seu consentimento, dado
um pouco antes de realizar o download, talvez estes aparelhinhos que carregamos
no bolso sejam mais espertos do que nós imaginamos.
FONTES:
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