quinta-feira, 4 de julho de 2019



Homo Connectus



Na semana passada estava junto de um colega que reclamava da impertinência do Whatsapp em questão a tomar-lhe todo e qualquer momento que lhe sobrava para o descanso. “Acaba se tornando uma armadilha já que quando não estou no trabalho estou no whatsapp”, reclamava meu divagador companheiro. Lembrei-me que quando este aplicativo se tornara febre no Brasil, decidi por espontânea e contrária vontade aos demais que não usufruiria deste fabuloso recurso que estaria à um click de distância na app store mais próxima.
Assim não o fiz, não porque sou munido de tamanha inteligência que me fez perceber, já a aquela época, o tamanho da arapuca em que estavam entrando meus néscios colegas, credito esta manobra estratégica mais à minha dificuldade adaptativa ao novo do que meu intelecto. Mas o que acabou acontecendo foi que não fiz o referido download, e ainda não o fiz até hoje, acreditem! Fui muito criticado e ainda o sou por não utilizar a ferramenta, e admito que por falta dela também já perdi algumas oportunidades, mas o que percebi ao longo deste tempo atuando como observador desta peça escrita por Zuckenberg, é que não somente este aplicativo, mas os outros da família “social” desenvolvidos para o telefone esperto (ou smartphones para os mais globalizados), vem no final das contas fazendo o contrário para aquilo que supostamente foram desenvolvidos: sociabilizar.
O que acontece é que seduzido pela comodidade e pela discrição que uma inocente mensagem pode denotar ao escritor, este resolve enviar suas idéias sobre um projeto, pedir um orçamento ou até realizar uma compra fora do horário de serviço, afinal é só uma mensagenzinha né? Este esquece que pode não ser o único à ter esta ideia e pior, ele não sabe onde se encontra o receptor da mensagem naquele momento; Então o pai que está na apresentação colegial de seu filho acaba perdendo quase toda ela para responder a várias e inocentes mensagenzinhas. Assim também são comprometidas reuniões familiares, festas, encontros, por fim, a situação descrita no início deste texto se desenrola nos mais diferentes ambientes sociais.
Muitos podem argumentar: mas isso tudo não tem a ver com a tecnologia, é culpa de pessoas inconscientes, que não respeitam a privacidade alheia, e o seu colega, porque responde estas pessoas? Porque não aproveita seu tempo de descanso? Resolvi questioná-lo e a resposta foi um tapa-na-cara: Se eu não responder, os clientes encontram alguém que responda.
E o que dizer dos crescentes casos de pessoas apresentando uma extrema necessidade em checar ou postar em suas redes sociais, aumentar o número de seguidores, quantidades de likes, deslikes, curtidas... todos estes aspectos geram padrões comportamentais totalmente novos, padrões de consumo e imagem que cerca de uma década atrás não existiam. E quando estes serviços deixam de funcionar mesmo que por alguns minutos, a comoção é tanta e em nível global que estas viram notícia nos meios de comunicação.
O jornalista Frankin Foer lançou o livro: O Mundo que não pensa. A Humanidade Diante do Perigo Real da Extinção do Homo Sapiens, onde ele afirma que com tamanho desenvolvimento da tecnologia estamos abandonando características essenciais de nossa espécie como pensar, imaginar, refletir e conhecer. Além disso, alguns estudos científicos apontam que uso excessivo destes aparelhos podem estar até promovendo mudanças anatômicas no corpo humano.
Um conjunto de tecnologias invasivas, altamente viciante, propensas a modificações comportamentais e até fisiológicas que me torna acessível à milhares de usuários inconscientes e sem respeito por 24 horas por dia me afugentaram e me fizeram sentir saudades dos e-mails. Todas estas coisas acontecem com o seu consentimento, dado um pouco antes de realizar o download, talvez estes aparelhinhos que carregamos no bolso sejam mais espertos do que nós imaginamos.

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